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sábado, 29 de agosto de 2009

Entre Anáforas e Anáguas

Tema constante em gramáticas e manuais de estilo, a anáfora ultrapassa regras de escrita, de boa redação, pois é mais utilizada no dia-a-dia do que podemos imaginar, já que muitas vezes surge de forma imperceptível.
Anáfora (por mais que se pareça com nome de peça íntima) nada mais é do que o termo ou expressão que retoma idéia já falada em um determinado texto. Pode surgir através de um pronome (este, que, essa, aquilo), de uma característica (o maior, a mais alta, o dentista) ou até mesmo através da elipse (quando a própria flexão verbal denuncia o sujeito, não havendo necessidade de utilizá-lo).
Observemos a frase: “[1] Alfredo chegou ao apartamento dos tios que moram em BH mas encontrou apenas um deles.” Neste caso, temos a elipse antes do verbo encontrar. Sabemos que quem encontrou foi o Alfredo e não os tios porque o verbo só pode estar ligado a um ser que esteja no singular. Exceção para casos em que apartamentos encontram pessoas, muitíssimo comuns em folhetos publicitários.
Não há como construirmos um texto sem que trabalhemos com o conhecimento prévio do leitor. Na frase [1], sabemos que Alfredo possui tios fora de BH sem que isto tenha sido dito às claras. Ou seja, anáforas são fundamentais em um texto, embora possam prejudicar a leitura, como em: “[2] Encontrei o Beto com a Natália e o Zé no estádio e aproveitei o intervalo para falar-lhe do meu projeto.” Ou ainda “[3] O sargento entregou ao soldado sua arma.”
Nestes dois casos, a anáfora deixaria um leitor, sem conhecimento prévio dos assuntos, no mínimo confuso, pois em [2], o pronome lhe pode se remeter tanto a Beto quanto a Zé quanto a Natália. Já em [3], o possessivo sua igualmente pode estar ligado ao sargento ou ao soldado, construção ambígua (com mais de um sentido).
Além da ambigüidade, a anáfora pode prejudicar um texto de outras maneiras, como; “[4] Não comprei os tomates porque todas as frutas encareceram” (para exemplo atual, aumento salarial!) Aqui, a anáfora ocorre no termo frutas, que retoma “tomates”. Mas a frase seria muito mais assimilável se no lugar deles colocássemos maçãs. Isto ocorre porque estas estão muito mais associadas a frutas do que aqueles – é sempre importante considerar que existem leitores diferentes, enquanto uns entendem com facilidade, outros nem tanto.
Mesmo com estes problemas, as anáforas são indispensáveis à produção de um texto. Não há como explicarmos tudo que está implícito em nossa fala (ou escrita), seríamos mais tediosos que os amiguinhos do telemarketing. É fundamental termos sempre em mente que quanto mais legível estiver a associação entre duas palavras ou expressões, mais facilmente seremos interpretados e que a anáfora é responsável pela construção de textos mais claros e menos repetitivos, enfadonhos.
Quanto às anáguas, sem mágoas, que suas donas sejam (ou foram) sempre louvadas!

Um comentário:

  1. Escrita masculina, dura e elegante. Esse poetinha merece mesmo ser lido. Bjsssssss, Aninha

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