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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ao vencedor, as baratas!

A motivação para que este artigo ou crônica, ou nem um nem outro, ou simplesmente texto seja construído deveria ter sido o abaixo-acinado (com c) que me foi destinado certa vez por ter trabalhado na aula de português com um texto sobre baratas, do jornalista Millôr Fernandes.
A crônica era até bonitinha, engraçada, até útil para se trabalhar com ironia, por exemplo. Capturei-a de uma Veja amiga e “com açúcar, com afeto” levei-a à famigerada aula com o intuito mesmo de ensinar algumas das funções de uma crônica. Tal ato “transgressor” foi visto como um insulto por um dos irados alunos. Este, enraivecido, vociferante, quase babante do mais escorpiônico ódio, alegou não estar em uma aula de biologia para aprender sobre baratas. Aí respirei aliviado e entendi o motivo da ira.
O que verdadeiramente me “apoquentou” foi o fato deste questionamento ser recorrente nas aulas de português. Alunos, pais, comunidade em geral ou às vezes nós mesmos nos perguntamos o porquê das aulas de interpretação textual. Por que falar de um artigo que tinha como temática as baratas?
Comparo não apenas o aluno mas o leitor em geral ao atleta. Fazer abdominais, por exemplo, pode parecer uma insanidade a um jogador de futebol que pretende melhorar chute, domínio de bola ou passe mas aquela atividade é fundamental para a estabilização da coluna vertebral, que por sinal é de extrema importância para a sustentação do tronco. O que acabará ajudando e muito um jogador que atuará noventa minutos.
Da mesma maneira, nem sempre é clara a relação entre o ato de interpretar, de inferir o sentido de um texto sobre baratas com a necessidade de compreensão e produção das tantas linguagens que circulam por nós nos mais diferentes locais e meios. Ou seja, leia para que sempre consiga ler e escrever os mais diversos textos.
Assim, ao entender o sentido implícito de uma propaganda, você, leitor, estará treinando, condicionando-se a enfrentar os diferentes desafios da linguagem. Quem sabe não o auxiliará a perceber a malícia de um vendedor (de batatas?) ao atirar-lhe um produto ruim e caro?
Nosso conhecimento é fundamental para nos possibilitar a realização daquilo de que necessitamos ou que desejamos no nosso dia-a-dia e não adianta aprendermos que a luz forte incomoda os olhos se não tivermos o bom senso de baixar o farol ao cruzarmos com alguém na estrada.
A compreensão de um texto é importante não apenas por nos informar algo mas principalmente por nos condicionar a abstrair, a inferir um sentido (nem sempre claro) em situações, contextos diversos de nossa vida. Já que o que realmente deve ser decifrado nem sempre está às claras e que, de acordo com Eni Orlandi: “Interpretar é saber que o sentido sempre pode ser outro”.

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