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segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Mente Fina
Depois que a mulher pariu os dois de uma veizada só não sobrou recurso pra luxo, pra passeio e nem mó de jogar bola. Tempo ficou foi definhado, labuta de lata, marmita, madruga e inté mão calosa de sangue. Patroa deu de atentar por conta de televisão fina, dessas de comprido. Tentei prosear mais ela, mas ela num envergou. Meti em negócio de pagar picado, levar e num pagar, dever pra depois. Gosto disso não mas agradou a casa. Dia desses num trabalhei por conta de clamura, troço dos miolos. Fui é deitar depois que a dona na televisão bateu os beiços pra falar que mulher amadurece antes que o homem.
sábado, 13 de agosto de 2011
Até em concurso de redação, Senador?
Assistindo à TV Senado dia desses, acho que acompanhando alguma votação de lei ou coisa do tipo, deparei-me com um comercial que me deixou com um grilo atrás da orelha, já que falar de pulga em ocasião desta me tornaria minimalista.
Estava sendo anunciado o IV Concurso de Redação do Senado Federal, cujo tema convidaria alunos entre 16 e 19 anos, provenientes de escolas públicas estaduais e do Distrito Federal, a debater o exercício da cidadania. A meu ver, atitude louvável de trazer o cidadão jovem a conhecer, questionar e até mesmo entender os processos democrático e legislativo. Verdadeiro achado em tempos minguados de questionamento se não fosse um dos requisitos; “não conter palavras de origem estrangeira”.
Procurei o site oficial do senado e não encontrei o termo “origem”, havendo a proibição expressa de que “palavras estrangeiras” fossem veiculadas aos textos. De qualquer forma, este requisito já dá pano pra manga. Origem estrangeira é uma questão tão complicada em se tratando de português brasileiro. O que não seria estrangeiro? Nosso idioma descende predominantemente do latim vulgar, possui contribuição do tupi, espanhol, grego, inglês, árabe, etc, como todas as línguas cujos falantes tenham contato com imigrantes.
No próprio site do senado, rapidamente pude ver os termos mídia, blog e downloads (o primeiro aportuguesado e os dois últimos ingleses). Isto o colocaria previamente fora do ar por infringir as próprias normas. Não seria má notícia se pudéssemos mandar pras cucuias o Sarney por ser filho da D.Kyola, pai de Roseana, cujo sobrenome é Murad e por ter sido membro da Academia Brasileira de Letras ao publicar poemas (de péssima qualidade) recheados de termos indígenas.
Ainda curioso, fui dar uma olhada nos nomes e sobrenomes dos nossos atuais senadores e olhem o que achei: Gurgacz, Maggi, Maldaner, Suplicy, Argello, Lindbergh, Raupp, Grazziotin, etc. Ou seja, nossos representantes estão recheados de termos estrangeiros no próprio nome. Isso nos daria legalmente a autoridade de desclassificá-los? Quem nos dera!
Em tempos de globalização, é natural que nosso idioma (como a maioria dos outros) receba influências diversas. Gol, iogurte, sutiã, córner, etc, são apenas alguns exemplos de termos que já foram de outras línguas e hoje fazem parte do português. Não há como impedir que o redator utilize estas palavras, sob pena de prejudicar sua escrita. Logicamente existem excessos. Não vejo porque o termo bacon é muito mais valorizado do que toucinho, mas no caso de mouse, por exemplo, vamos chamar o objeto de quê?
Senhores senadores, não é censurando a escrita de nossos alunos (de maneira arbitrária, inquisitorial e anticientífica) que vamos criar um patriotismo crítico. Não é porque o cara vai escrever “hora do rush” que vai deixar de ser cidadão. Quem sabe se os excelentíssimos senhores começassem a efetivamente criar uma política social de qualidade, que valorizasse sua educação e seus profissionais, que objetivasse a contratação de médicos e juízes suficientes, e que punisse seus próprios atos sectários e corruptíveis não teríamos realmente uma geração de jovens nacionalistas e envolvidos?
Estava sendo anunciado o IV Concurso de Redação do Senado Federal, cujo tema convidaria alunos entre 16 e 19 anos, provenientes de escolas públicas estaduais e do Distrito Federal, a debater o exercício da cidadania. A meu ver, atitude louvável de trazer o cidadão jovem a conhecer, questionar e até mesmo entender os processos democrático e legislativo. Verdadeiro achado em tempos minguados de questionamento se não fosse um dos requisitos; “não conter palavras de origem estrangeira”.
Procurei o site oficial do senado e não encontrei o termo “origem”, havendo a proibição expressa de que “palavras estrangeiras” fossem veiculadas aos textos. De qualquer forma, este requisito já dá pano pra manga. Origem estrangeira é uma questão tão complicada em se tratando de português brasileiro. O que não seria estrangeiro? Nosso idioma descende predominantemente do latim vulgar, possui contribuição do tupi, espanhol, grego, inglês, árabe, etc, como todas as línguas cujos falantes tenham contato com imigrantes.
No próprio site do senado, rapidamente pude ver os termos mídia, blog e downloads (o primeiro aportuguesado e os dois últimos ingleses). Isto o colocaria previamente fora do ar por infringir as próprias normas. Não seria má notícia se pudéssemos mandar pras cucuias o Sarney por ser filho da D.Kyola, pai de Roseana, cujo sobrenome é Murad e por ter sido membro da Academia Brasileira de Letras ao publicar poemas (de péssima qualidade) recheados de termos indígenas.
Ainda curioso, fui dar uma olhada nos nomes e sobrenomes dos nossos atuais senadores e olhem o que achei: Gurgacz, Maggi, Maldaner, Suplicy, Argello, Lindbergh, Raupp, Grazziotin, etc. Ou seja, nossos representantes estão recheados de termos estrangeiros no próprio nome. Isso nos daria legalmente a autoridade de desclassificá-los? Quem nos dera!
Em tempos de globalização, é natural que nosso idioma (como a maioria dos outros) receba influências diversas. Gol, iogurte, sutiã, córner, etc, são apenas alguns exemplos de termos que já foram de outras línguas e hoje fazem parte do português. Não há como impedir que o redator utilize estas palavras, sob pena de prejudicar sua escrita. Logicamente existem excessos. Não vejo porque o termo bacon é muito mais valorizado do que toucinho, mas no caso de mouse, por exemplo, vamos chamar o objeto de quê?
Senhores senadores, não é censurando a escrita de nossos alunos (de maneira arbitrária, inquisitorial e anticientífica) que vamos criar um patriotismo crítico. Não é porque o cara vai escrever “hora do rush” que vai deixar de ser cidadão. Quem sabe se os excelentíssimos senhores começassem a efetivamente criar uma política social de qualidade, que valorizasse sua educação e seus profissionais, que objetivasse a contratação de médicos e juízes suficientes, e que punisse seus próprios atos sectários e corruptíveis não teríamos realmente uma geração de jovens nacionalistas e envolvidos?
sábado, 30 de julho de 2011
Meretrizes
Cresceram juntas Joana e Clara na mesma rua; filhas de pais humildes, frequentaram os anos iniciais na mesma escolinha. Foi quando Clara ganhou bolsa de colégio bom por vencer concurso de dança. Menina linda como ela não podia ficar ali. Não visitou Joana nem quando ela perdeu a mãe, viúva. Clara tinha amiguinha nova, passava na rua indiferente balançando a crina verde e cheia de cheiros. Joana conhecera a vida fácil e tingia a parca beleza com a cosmética do ofício. Depois de adulta, viu Clara casada com um velho rico. Quis cumprimentar o filhinho da Clara, que, azedo, chamou-a de algo estranho. Ficou chateada a Joana até a colega de luta lhe cochichar que meretriz era quem trocava o corpo por bem material. Joana então gargalhou em direção à Clara.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Bucovisquiando
O rádio diz que são horas, denunciam madrugada inacabada e o gosto pobre do seu hálito se despede como quem despede a própria sorte. Vejo o cheiro do seu passo se entrelaçar por entre bares, clemente a outros pares de abusos. Seres como que não seres rifam seu desgosto torpe. São mecenas do abismo. Tapetes sujos, a cozinha em caos etéreo e eu eterno, debatendo-me com minha própria tatuagem.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
do Café
...dizem do café com letras, temperado a requinte, queimando impropérios em seu despoder legítimo, cortês. Café é bebida sóbria, de gente com fome, apetite diferente, desses que não doem no corpo, dor que não se espalha em mente. Café é pra mor de sustento outro, formação de prosa. Café não se lê sem fé, não se sorve sem letra.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Meretrizes
Cresceram juntas Joana e Clara na mesma rua; filhas de pais humildes, frequentaram os anos iniciais na mesma escolinha. Foi quando Clara ganhou bolsa de colégio bom por vencer concurso de dança. Menina linda como ela não podia ficar ali. Não visitou Joana nem quando ela perdeu a mãe, viúva. Clara tinha amiguinha nova, passava na rua indiferente balançando a crina verde e cheia de cheiros. Joana conhecera a vida fácil e tingia a parca beleza com a cosmética do ofício. Depois de adulta, viu Clara casada com um velho rico. Quis cumprimentar o filhinho da Clara, que, azedo, chamou-a de algo estranho. Ficou chateada a Joana até a colega de luta lhe cochichar que meretriz era quem trocava o corpo por bem material. Joana então gargalhou em direção à Clara.
domingo, 19 de junho de 2011
Tire os pés do chão
A letra vaga do axé golpeava como os socos, vão, enumerando-se pela multidão anônima, alheia. Sua boca grisalha clamava por companhia enquando a outra boca ria. Um genocídio existencial tirava os pés do chão e enchia de poeira sua roupa boy. Travestido em sua própria juventude, sentia o gosto de Danone depois dos beijos-relâmpago, beijos-recorde que sumiam como somem os próprios sonhos. Madruga terminando, dia-a-dia clareando, kitinete esperando. O abadá suado não tiraria o sal dos olhos, das rugas.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Cabelo Loiro
Vida cigana de caminhoneiro costura rodovia com agulha eremita, saudade vem aos poucos, goteira persistente em balde vazio. Faltavam dois dias para o merecido descanso, rever o moleque e receber o beijo calmo e erótico de esposa ausente. Parei pra passar a noite porque a chuva tinha zangado, o jeito era pousar na pensão de família que vi. Tava todo mendigo, meio molhado e fedido. Sentimento humano a gente percebe de graça; a loira da pensão lavou minha roupa. De certo ficou com dó. Levantei cedinho, bati volante e de noite já tava em casa. Moleque dormindo. A mulher pulou assanhada e me tirou a roupa; do banho ouvi o berro. Cabelo loiro desgraçou minha vida.
terça-feira, 3 de maio de 2011
O Inventor
Quando criança, foi destaque nas feiras de ciências; criou uma lixa eletrônica com fiapos de fiação. Mais tarde ganhou bolsa em faculdade e inventou vassoura automática; uma revolução. Casou-se pela net, proliferou-se nas folgas, criou babá digital, antes de se enriquecer. Hoje está adoecido, morre lentamente nas palavras cruzadas e vê escorrer o tédio via esclerose.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Vulvolatria
Entro pela via na magia e me calo tolo ante a tua magnitude. Teus lábios me encharcam sibilantes em lascívia e o calor do meu corpo te abarca em colo amigo. Vem, vulva, vem me ver e envolver. Com tua língua, minha língua se choca, estala, instala e entala. Um beijo eterno e submerso se reitera sinestésico e anestésico. Viva a vulva, exuberantemente ela, vulva anima. Pelos pêlos denunciam seu contorno na ventania dos lábios. Entorna sua seiva amiga, seiva minha; suga-me, ventana, vulvaniza e vulcaniza-me em teu ventre de concha. Oh, Vênus etérea, alcoolize-me em pecado que te louvo como loucos, te louvo como o Olimpo em frenesi.
domingo, 27 de março de 2011
O Netinho
Mal suportava as longas horas do colégio longe da net. Morava num pequeno AP central com a avó viúva. Sempre que chegava em casa, garrincheava-lhe em neutros monossílabos, trocando silêncios. Fechava-se no quarto escuro, cheio de louça, para abrir as janelas da web. Lá de dentro, furioso, gritava impropérios à velha incômoda, injetando-na doses diárias de solidão. Todo mês, recebia pra vovó que não entendia dessas coisas e nem passava na farmácia antes de sumir.
segunda-feira, 7 de março de 2011
Violência Doméstica
À todo aquele que se emociona em Hollywood
À época em que conhecera Washington, também era de sair empetecada; roupinha da moda justinha e o cabelo escovado. Lembrava das amigas daquele tempo, não procuravam mais. O do meio então começou a gritar e jogou copo de suco na cara do novinho. Catarro no rosto, pés imundos de poeira velha, fralda cheia. Washington devia de estar em festa também, gastando a conta de luz. Com a camiseta cavada na mão, suportava o pranto vão de menino nervoso. Foi quando fitou a colega Paula passando na rua, vestida de festa e com namorado. Arremessou a prancha velha na cabeça do menino.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
A Serviçal
E a lua vinha dura e previsível anunciar a jornada. O odor de rosas se imiscuía ao gozo falso, farto e eclético da casa de shows. Rita rejeitava os olhos curiosos, afastava a fama de beleza fácil e cara. Firmeza no rosto para aguentar a batalha; suores, pêlos e putas. O coronel de sempre, o delegado passivo, a aristocracia nua e a freguesia ria e retalhava Rita, gargalhava. Enfim o sol, enfim o lar. Cássia Eller no som e os sacos de vômito testemunhavam a desgraça do mundo.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Presente de Grego
Há alguns anos fui presenteado com um destes livros que prometem resolver as questões mais cabeludas da humanidade. Não entendi o porquê de tal agraciamento que não seria tão trágico se o catatau não tivesse 693 páginas e se a alma amiga não me cobrasse semanalmente por pareceres a respeito de tão “revolucionária” obra.
Em xeque, tive de optar por duas alternativas; arriscar a sinceridade e desgostar profundamente um amigo ou ter uma opinião, mesmo que geral do auto-ajuda. Mesmo ouvindo clamores de virtude retumbando em meus tímpanos como um mantra (Diga a verdade!), preferi ler o sumário, alguns capítulos inteiros, início e fim de outros, etc.
Confesso que a cada frase de efeito lida, nauseava-me a consciência me expondo, como em um estande de livraria, os clássicos que não li. Que naquele momento poderiam estar sendo devorados.
Em um ataque de fúria, arranquei meia dúzia de páginas ao me deparar com a biografia do autor (verdadeiro especialista em mente humana sem sequer ter pisado em uma faculdade de psicologia). Sua foto denotava a figura inorgânica, imaterial de um ser maquiado, pouco abaixo de Deus por pura modéstia e acima de toda a humanidade. Uma mescla de elegância, sabedoria e poderio econômico.
Houve ocasião em que tentei esconder (sem sucesso) o bendito gorducho, mas sempre me passava um engraçadinho a fazer piada do título. Era difícil arranjar desculpa: _ É que vou dar de presente.
Pensando no que diria um terapeuta ao presenciar meu nervosismo, tentei tirar proveito da minha empreitada literária. Riscava, vingativamente, os pontos mais controversos, irrisórios do best-selle. Assim, entre florais, bicarbonato e persistência, venci o meu karma.
Afoito, fui relatar minha cáustica opinião a meu algoz (o que me presenteou), que secamente e de prontidão me respondeu que sou pequeno demais pra entender a alma de um auto-ajuda.
Em xeque, tive de optar por duas alternativas; arriscar a sinceridade e desgostar profundamente um amigo ou ter uma opinião, mesmo que geral do auto-ajuda. Mesmo ouvindo clamores de virtude retumbando em meus tímpanos como um mantra (Diga a verdade!), preferi ler o sumário, alguns capítulos inteiros, início e fim de outros, etc.
Confesso que a cada frase de efeito lida, nauseava-me a consciência me expondo, como em um estande de livraria, os clássicos que não li. Que naquele momento poderiam estar sendo devorados.
Em um ataque de fúria, arranquei meia dúzia de páginas ao me deparar com a biografia do autor (verdadeiro especialista em mente humana sem sequer ter pisado em uma faculdade de psicologia). Sua foto denotava a figura inorgânica, imaterial de um ser maquiado, pouco abaixo de Deus por pura modéstia e acima de toda a humanidade. Uma mescla de elegância, sabedoria e poderio econômico.
Houve ocasião em que tentei esconder (sem sucesso) o bendito gorducho, mas sempre me passava um engraçadinho a fazer piada do título. Era difícil arranjar desculpa: _ É que vou dar de presente.
Pensando no que diria um terapeuta ao presenciar meu nervosismo, tentei tirar proveito da minha empreitada literária. Riscava, vingativamente, os pontos mais controversos, irrisórios do best-selle. Assim, entre florais, bicarbonato e persistência, venci o meu karma.
Afoito, fui relatar minha cáustica opinião a meu algoz (o que me presenteou), que secamente e de prontidão me respondeu que sou pequeno demais pra entender a alma de um auto-ajuda.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Prevenir ou Remediar?
Recentemente, a tragédia provocada pelas chuvas na região serrana do Rio tomou a grande mídia com o estardalhaço costumeiro. Dá Ibope chocar, estarrecer a população. Por mais que nos comova, gostamos sim de nos inteirarmos do sofrimento alheio. Acidentes aéreos, morte de famosos, tufões, etc; são temas que nos prendem à informação, nutrem uma curiosidade sádica.
Este texto poderia questionar a insana repetição de notícias e imagens que a TV aberta regurgita nos olhos e ouvidos curiosos do grande público. Poderia também retratar a ironia de uma Rede Globo faturando milhões por pedir donativos aos necessitados, mas ainda não é nosso objetivo principal.
Sempre que um acontecimento trágico ocorre, principalmente vitimando vidas, é quase automático o ato de se procurar por um responsável, assim como quando nosso time toma um gol. É mais fácil eleger o culpado do que simplesmente engolir uma adversidade. Faz bem ao ego, lustra-se a consciência, fazendo com que pareçamos mais sensíveis e até caridosos.
Deputados, senadores, prefeitos, ex, atuais e até futuros políticos se digladiam, atirando culpa um no outro. Enquanto isso, elegemos ou pelo menos nos esforçamos a eleger “o verdadeiro culpado”. Mas não pense o sorteado que estará nos holofotes da vilania por muito tempo. Seu período de glória maquiavélica dura até o próximo acontecimento midiático; seja as finais de uma novela, do BBB ou mesmo de um campeonato. O deputado incompetente cede lugar ao galã artificial ou ao artilheiro dentucinho.
O leitor acredita que já se deparou com controvérsias por cá? Então ajudem este ignóbil cronista a refletir: por que preocupar-se tanto com o imediatismo do sofrimento provocado pelas tragédias e não se ouvir sequer uma menção (na padaria, no cabeleireiro ou no bar) dos mais de 60% de aumento aos parlamentares? Será que tal dinheiro público não poderia igualmente sanar deficiências dolorosas à população? Não seria mais justo, duradouro e humano contarmos com um SUS de qualidade, com um professorado valorizado ou mesmo com impostos menos abusivos, que permitissem aos pequeno e micro empresários exercerem seu ofício com mais tranquilidade do que simplesmente o envio imediato e emergencial aos necessitados?
Creio ser louvável a atitude de se ajudar o próximo mas o trabalho de prevenção e estruturação de um país seria o mínimo a se exigir de um Brasil que suga cada vez mais sua população com impostos abusivos. Evitar, planejar, amparar e reconstruir uma região submetida (ou passível) a uma catástrofe é papel do Estado. Não é bonito que cidadãos vitimados por uma carga tributária medonha tenham que depender de compatriotas igualmente necessitados.
Também não vejo os moradores da Serra Fluminense como apenas vítimas. Somos todos culpados por eleger todo este “faz-de-conta” que finge nos governar, assim como por nos preocuparmos mais com os galãs e craques do que no mínimo termos conhecimento do que se é votado no congresso. Ao invés de açúcar, água, sal, enviemos livros, jornais, cd’s e revistas ao RJ. No momento, os alimentos de que mais nos necessitamos são a cultura e a informação, para quem sabe podermos no futuro saber pelo menos exigir nossos direitos e deixar de eleger nossos Tiriricas e Romários.
Este texto poderia questionar a insana repetição de notícias e imagens que a TV aberta regurgita nos olhos e ouvidos curiosos do grande público. Poderia também retratar a ironia de uma Rede Globo faturando milhões por pedir donativos aos necessitados, mas ainda não é nosso objetivo principal.
Sempre que um acontecimento trágico ocorre, principalmente vitimando vidas, é quase automático o ato de se procurar por um responsável, assim como quando nosso time toma um gol. É mais fácil eleger o culpado do que simplesmente engolir uma adversidade. Faz bem ao ego, lustra-se a consciência, fazendo com que pareçamos mais sensíveis e até caridosos.
Deputados, senadores, prefeitos, ex, atuais e até futuros políticos se digladiam, atirando culpa um no outro. Enquanto isso, elegemos ou pelo menos nos esforçamos a eleger “o verdadeiro culpado”. Mas não pense o sorteado que estará nos holofotes da vilania por muito tempo. Seu período de glória maquiavélica dura até o próximo acontecimento midiático; seja as finais de uma novela, do BBB ou mesmo de um campeonato. O deputado incompetente cede lugar ao galã artificial ou ao artilheiro dentucinho.
O leitor acredita que já se deparou com controvérsias por cá? Então ajudem este ignóbil cronista a refletir: por que preocupar-se tanto com o imediatismo do sofrimento provocado pelas tragédias e não se ouvir sequer uma menção (na padaria, no cabeleireiro ou no bar) dos mais de 60% de aumento aos parlamentares? Será que tal dinheiro público não poderia igualmente sanar deficiências dolorosas à população? Não seria mais justo, duradouro e humano contarmos com um SUS de qualidade, com um professorado valorizado ou mesmo com impostos menos abusivos, que permitissem aos pequeno e micro empresários exercerem seu ofício com mais tranquilidade do que simplesmente o envio imediato e emergencial aos necessitados?
Creio ser louvável a atitude de se ajudar o próximo mas o trabalho de prevenção e estruturação de um país seria o mínimo a se exigir de um Brasil que suga cada vez mais sua população com impostos abusivos. Evitar, planejar, amparar e reconstruir uma região submetida (ou passível) a uma catástrofe é papel do Estado. Não é bonito que cidadãos vitimados por uma carga tributária medonha tenham que depender de compatriotas igualmente necessitados.
Também não vejo os moradores da Serra Fluminense como apenas vítimas. Somos todos culpados por eleger todo este “faz-de-conta” que finge nos governar, assim como por nos preocuparmos mais com os galãs e craques do que no mínimo termos conhecimento do que se é votado no congresso. Ao invés de açúcar, água, sal, enviemos livros, jornais, cd’s e revistas ao RJ. No momento, os alimentos de que mais nos necessitamos são a cultura e a informação, para quem sabe podermos no futuro saber pelo menos exigir nossos direitos e deixar de eleger nossos Tiriricas e Romários.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Parabéns
A todo eleitor da República Federativa do Brasil
A imagem de Padre Cícero pesava sobre as contas na cômoda corroída e o cinzeiro de pedra assentava a pilha de classificados. Naquele dia, Raimunda mentiu à filha: em noite de aniversário não tem luz acesa. No parabéns, Raimunda tragou um choro amargo e premonitório antes de clicar o rosto alegre e inocente soprando a velinha quebrada.
A imagem de Padre Cícero pesava sobre as contas na cômoda corroída e o cinzeiro de pedra assentava a pilha de classificados. Naquele dia, Raimunda mentiu à filha: em noite de aniversário não tem luz acesa. No parabéns, Raimunda tragou um choro amargo e premonitório antes de clicar o rosto alegre e inocente soprando a velinha quebrada.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
A Tia
Os dias escorriam estanques pela vida alheia e a janela, cúmplice mais fiel da amargura pálida de Tia. Os ponteiros pontilhavam imóveis enquanto as banhas brancas da Tia escorregavam ao parapeito. O operário pontual, a jovem bela, a vizinhança esbelta, ativa e longínqua debochavam da Tia, invisível. O cigarro, a janela amiga, os doces e o tédio reconstituíam a cada dia a rotina clara e calma do desespero.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Indústria Cultural
O fedor exala por entre os tubos da modernidade e a massa podre ferve aos olhos dos bilhões, tudo encanado, igual e previsível como a morte. Enquanto a arte se desdobra, torce, retorce, foge, afiada, os dentes claros da hiena vislumbram em risos torpes, riso em rios. Bilhões de hienas em série e em fila riem pálidas e sem cor da última fagulha de arte e amor.
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