Assistindo à TV Senado dia desses, acho que acompanhando alguma votação de lei ou coisa do tipo, deparei-me com um comercial que me deixou com um grilo atrás da orelha, já que falar de pulga em ocasião desta me tornaria minimalista.
Estava sendo anunciado o IV Concurso de Redação do Senado Federal, cujo tema convidaria alunos entre 16 e 19 anos, provenientes de escolas públicas estaduais e do Distrito Federal, a debater o exercício da cidadania. A meu ver, atitude louvável de trazer o cidadão jovem a conhecer, questionar e até mesmo entender os processos democrático e legislativo. Verdadeiro achado em tempos minguados de questionamento se não fosse um dos requisitos; “não conter palavras de origem estrangeira”.
Procurei o site oficial do senado e não encontrei o termo “origem”, havendo a proibição expressa de que “palavras estrangeiras” fossem veiculadas aos textos. De qualquer forma, este requisito já dá pano pra manga. Origem estrangeira é uma questão tão complicada em se tratando de português brasileiro. O que não seria estrangeiro? Nosso idioma descende predominantemente do latim vulgar, possui contribuição do tupi, espanhol, grego, inglês, árabe, etc, como todas as línguas cujos falantes tenham contato com imigrantes.
No próprio site do senado, rapidamente pude ver os termos mídia, blog e downloads (o primeiro aportuguesado e os dois últimos ingleses). Isto o colocaria previamente fora do ar por infringir as próprias normas. Não seria má notícia se pudéssemos mandar pras cucuias o Sarney por ser filho da D.Kyola, pai de Roseana, cujo sobrenome é Murad e por ter sido membro da Academia Brasileira de Letras ao publicar poemas (de péssima qualidade) recheados de termos indígenas.
Ainda curioso, fui dar uma olhada nos nomes e sobrenomes dos nossos atuais senadores e olhem o que achei: Gurgacz, Maggi, Maldaner, Suplicy, Argello, Lindbergh, Raupp, Grazziotin, etc. Ou seja, nossos representantes estão recheados de termos estrangeiros no próprio nome. Isso nos daria legalmente a autoridade de desclassificá-los? Quem nos dera!
Em tempos de globalização, é natural que nosso idioma (como a maioria dos outros) receba influências diversas. Gol, iogurte, sutiã, córner, etc, são apenas alguns exemplos de termos que já foram de outras línguas e hoje fazem parte do português. Não há como impedir que o redator utilize estas palavras, sob pena de prejudicar sua escrita. Logicamente existem excessos. Não vejo porque o termo bacon é muito mais valorizado do que toucinho, mas no caso de mouse, por exemplo, vamos chamar o objeto de quê?
Senhores senadores, não é censurando a escrita de nossos alunos (de maneira arbitrária, inquisitorial e anticientífica) que vamos criar um patriotismo crítico. Não é porque o cara vai escrever “hora do rush” que vai deixar de ser cidadão. Quem sabe se os excelentíssimos senhores começassem a efetivamente criar uma política social de qualidade, que valorizasse sua educação e seus profissionais, que objetivasse a contratação de médicos e juízes suficientes, e que punisse seus próprios atos sectários e corruptíveis não teríamos realmente uma geração de jovens nacionalistas e envolvidos?
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Giuliano,
ResponderExcluirBelíssima postagem. Vale o adágio: "Quem tem telhado de vidro não atire pedra no do vizinho". Esse idiota do Sarney, cujo sobrenome veio da expressão "Sir Ney" que seu avô, capacho de ingleses que construíam uma ferrovia no Maranhão, cujo chefe era um engenheiro chamado Ney, então esse avô puxa-saco, de tanto falar o nome de seu patrão acabou incorporando ao seu. Pelo visto os senadores são verdadeiros puristas que só usam vocábulos oriundo do latim, não é mesmo? Abraços e obrigado pela visita ao meu blogue, JAIR.