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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A Crônica que Nunca Escrevi

Tava pensando em escrever uma crônica mas ela tinha que ser engraçada, porque crônica sem humor é muito sem graça. Se bem que não tem que ter humor pra ser crônica. Ai, melhor largar dessas indecisões, senão podem me julgar geminiano. Decidido, ela vai ser sem graça mesmo, é menos arriscado.
Para ficar legal, podia colocar denúncia social nela. Dizer que com o Aécio presidente ou não, a pobreza não vai diminuir, que mudanças não são feitas nas urnas mas nas ruas. Mas aí vão me taxar de marxista e nem barba grande eu tenho. Melhor não denunciar nada, mas daí vão me julgar superficial, vão dizer que o texto tá cheirando a Luciana Gimenez.
Legal, poderia comentar sobre o “cheirando a” escrito acima, ficou bacana, deu tom mais sério. Posso dar nome a isto de regência, daí fico parecendo gente ilustrada. Mas podem me julgar gramatiqueiro e o texto que nem sei se vai sair já vai nascer caduco. Melhor largar mão.
Pior de tudo é que sempre escrevi foi artigo de opinião, com proposta definida, amparo científico e fantasia de seriedade. Mas aí vou estar é dando aula de gênero textual e vão me julgar linguista. Que chique, não coloco o trema e mostro pra galera que tô antenado à reforma ortográfica. Mas aí vão achar erro de português e vai pegar mal pra caramba (podia falar caramba?).
Vamos largar de metalinguagem (é a língua falando da língua, melhor explicar porque senão vão me taxar de incompreensível). Se não vou me posicionar como marxista, que tal direitista? Falar da Linha Verde, privatização da 381, pré-sal – o Brasil está modernizando(miserável agora não toca mais campainha, pede comida por celular, manda e-mail requerendo pão). Mas daí vão dizer que tenho rabo preso com o governo e que tô é ganhando por fora. Sei lá, meio antiquado falar em direita ou esquerda em tempos ambidestros.
Já sei, vou tacar palavrão na crônica, daí vai dar tom informal, leve e vai fazer maior sucesso. Só que depois vou me fu..., entrar mal. Largar mão disso, já pensou marcha da família? _Em nome da moral, da ética e dos bons costumes, apedrejem o cronista. (“eu sou apenas o cantor”). Mas eu gosto de tudo que é proibido, imoral ou que engorda. Poderia chegar com papo de eu-lírico e dizer que quem falou isso foi a personagem e não o autor.

4 comentários:

  1. Há!Adorei!a linguagem (escrita) pra não deixar mal entendidos, é um perigo.Mas lembrei-me de um poema da Adélia Prado, que fala mais ou menos algo assim : "Letras eu quero é pra arrumar emprego... o resto são as mal traçadas linhas..."

    Taí, uma crônica sobre as mal traçadas linhas,,,mas podem te chamar de hermético.
    Aquele abraço do Burgão!

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  2. Bacana demais. Crítico, irônico. E a menção ao Belchior caiu muito bem ali no finalzinho.

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  3. Que delícia de texto. Conseguiu explorar de uma maneira simples várias possibilidades, que só o bom uso das palavras permite.
    Ele denuncia, critica, ironiza, tem humor....
    Perfeito..
    Vou virar sua fã...Mas, ai poderiam dizer que to "puxando saco"...rsrs....

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  4. Simplesmente adoro tudo o que escreve, este aqui marcou mais, por que é você sem tirar e nem por,critico como imagino que vc seja e comico,como o conheci.
    Bjus! Manu

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