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segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Alto Conhecimento
avesso do mundo
canhoto sem causa,
na contramão...
conheça-te a ti mesmo
soluço não pára
soluço pra dentro
soluço de pedra,
soluço não sai...
conheça-te a ti mesmo
corrente contrária
sol na moleira
fardo no lombo,
peleja de morro...
conheça-te a ti mesmo
engula o engodo!
entale com o resto!
conheça-te a ti mesmo
mas não me fui apresentado...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Inté mais ver, Seu Joaquim
Muito se debateu acerca do famigerado preconceito lingüístico, ou seja, determinadas variantes da língua portuguesa são consideradas deturpadas, arestas de um desconhecido e inalcançável português correto, digno de Camões.
Uma questão relevante levantada pelo lingüista Maurízzio Gnerre é o porquê deste tipo de preconceito que para Marcos Bagno é social e não lingüístico. Quer dizer, o errado (para quem assim pensa) é a pessoa que fala e não o que é falado. Uma gíria da periferia será discriminada por vir de lá e não necessariamente por distanciar-se do chamado “Português Padrão”.
A partir da segunda metade do século XVI, letrados e humanistas tiveram uma tarefa designada pelos detentores do poder de então: criar meios que comprovassem a superioridade de sua língua materna. Este fenômeno é justificado pela corrida por legitimação do poder. As línguas portuguesa e espanhola, por exemplo, travaram uma batalha ideológica em nome da conquista de povos e terras.
Desde então, no Brasil, por exemplo, criou-se um conceito de língua correta, pura, digna de um povo e um passado de glórias e a língua errada, estropiada, falada pelo gentio. Tal atitude só veio a legitimar uma desigualdade social grotesca, evidente até os dias de hoje no país do futebol.
Não é por acaso que pronúncias e sotaques regionais estão entre os elementos mais “combatidos” pelos puristas; o tão famoso português errado. Exemplo disso é a forma com que falantes fora do eixo Rio-São Paulo são colocados na grande mídia; nordestinos, mineiros, Gaúchos, etc. Principalmente nas novelas e minisséries, dificilmente não são representados de forma caricatural, burlesca.
A justificativa para isto encontra-se na essência do “problema”. Características regionais, sotaques, dificilmente são perdidos se o falante não tiver morado boa parte de sua vida fora de sua terra natal. Assim, a instrução não consegue (e nem deve) apagar estes traços do indivíduo, diferenciando assim com mais facilidade o suposto mau falante do bom.
Outro fator crucial neste apartheid lingüístico é que o dito português correto é usado freqüentemente para não ser compreendido pela grande massa. Discursos de contratos bancários, telemarketing e economia (como exemplo) não serão democratizados porque não convém. Poderia ser perigoso para a “nobreza” da era digital.
A fala, além de carregar todo o passado, toda individualidade do cidadão, está intimamente associada ao pensamento e dizer que o indivíduo não sabe falar a própria língua é afirmar que ele não sabe pensar. “Inté mais ver, Sô Joaquim”!