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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sedução

Carros de som competiam indecência enquanto as damas do funk ostentavam suas coxas e cavas; cabelos verdes, todos verdes. Calcinhas à mostra beijavam o asfalto urinado. O refrão insano vidrava seus olhos, tremelicando os corpos molhados, suados, salgados, sem alma. Por um ouvido, música ridícula, por outro, ejaculação da mente. A pinga barata já maquiava a vista faminta do sambista quando se lembrou da esposa. Pisando em ovos, abriu a porta. Teresa de roupão era mais nua que a própria nudez. Chapéu coco pra um lado, a calça branca pro outro. Enfim o sambista desejou.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Os Chatos

Existe uma figura que sempre me chamou a atenção (será que por alguma semelhança?) em muitos ambientes em que frequento. Geralmente este tipo costuma ser evitado, costuma repelir, chamam-no até de gambá, desmancha-rodinha, etc; (auto?) homenagem ao chato?
Seria a chatice só um estado de espírito? O sujeito estaria chato? Colocaria o dedão no chatômetro pra medir seu grau de chateza do dia? Se passasse do nível 7 seria proibido de sair de casa, com pena de multa se o fizesse.
Tem tipo diferente de chato? Aquele que conversa te abraçando e com o rosto colado no seu (geralmente com mau hálito). Tem o chato sabe-tudo, especialista de assuntos mais específicos, ninguém é tão hábil motorista do que ele, jamais nasceu mortal tão entendido de mulher, é o campeão de conhecimentos gerais. O chato religioso não te deixa falar e é capaz de afugentar até Zeus com 3 minutos de prosa, este convence Gandhi a matar, judeu a comer porco, satanista a fazer caridade, etc, só para não tê-lo por perto.
Todo chato que se preza, sopra fumaça de cigarro na sua cara, costuma ter uma quedinha por escândalo, pega microfone em festa e quando compra carro, mete som potente fazendo questão que todo mundo escute (comumente tocando Chico Buarque, Villa-Lobos ou mesmo um Tchaikovsky básico, né?).
Na mídia tem chato? Aquele que manda beijinho e ainda tomba a cabecinha. Faz um gol e vira Deus, olha pra tela e te enche a cuca de clichê (geralmente iniciados em “eu acho”). Ainda bem que tem uma galera simpática: Faustão, Kalil, Perrela, Ana Maria Braga, Padre Marcelo e claro, a rainha Meneguel. É tudo gente de primeiríssima, uma companhia e tanto pra uma mesa de bar, por exemplo.
Chato te para na rua, não te larga enquanto sua pressão não chega a níveis catastróficos e ainda pega na sua mão impedindo a fuga. Conversa é dando tapa, te lembra de ex (na frente da atual, claro), te dá lição de moral (comumente citando exemplos da própria vida), e ainda por cima pega seu email pra te enviar uma porrada de corrente e mensagens em massa. Manda tudo quanto é bonequinho, bichinho e letrinha pra você clicar.
Mas nenhum chato supera o cronista. É o cara que fica com a caneta na mão perdendo o tempo dele e do leitor pra falar de uma coisa que todos nós temos um pouquinho. Um brinde a todos os chatos (assumidos ou no armário).

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Vingança

Doutor Moreira era homem forte. Segundo mandato em Brasília. Carlinha minha trabalhava na casa dele e mês passado chegou amuada e chorosa no barraco. Menina bonita dessas pode chorar não. Ainda mais que é da gente. Rapazinho do Doutor Moreira começou atentar Carlinha em casa e eu fui lá tirar satisfação. Até o barraco Doutor tirou de nós. Fui eu mais o pequenininho dormir em cima de cova; morto a vista, ar defunto, bicho a revelia. Na mesma época passei a vender churrasquinho pertinho da escola do rapazinho.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Prosperação

A porta aberta foi a última saída; quanta dúvida, anemia, desespero. Os berros, flores, luzes a enchiam de uma estranha esperança. De que valia dez por cento de sangue mensal?seu plasma se multiplicava às vãs aleluias daqueles encontros. Vestidos longos sussurravam contraste sobre os corpos queimados de periferia. Aleluia! Gritava o homem de terno, esguichando um sorriso salvador por entre os caninos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Companhia e Cia

Os edifícios de centro de cidade falsamente o abraçavam e o faziam incompreensivelmente se sentir mais só. O gosto do concreto se misturava à secura da boca, que recebia enojada o sal do suor. Os transeuntes denunciavam seu abandono, quicava, esbarrava almejando toque. Depois via os gestos das bocas que o praguejavam. Vendedores surgiam, vendedoras propostas, todas lindas, de vidro. Até que quase ficticiamente aparecem três ex-colegas da companhia e o arrastam para o fast-food mais próximo. Os sons de seus lábios se misturavam, seus olhos atiravam fúria e questionavam a carteira vazia. Sozinho, viu-se acompanhado e concluiu que o ninho da solidão deve ser a copa de uma megalópole.